Bordados e o design para a autonomia de mulheres: uma revisão sistemática da literatura

Roberta Serednicki de Ávila, Ana Claudia Maynardes

Resumo


Os bordados são uma manifestação de cultura material fortemente marcada pela feminilização, produção doméstica e pela precariedade econômica. O presente artigo objetiva avaliar o potencial dos bordados promoverem a autonomia de mulheres. Utiliza-se o método de análise bibliográfica, com recurso à Teoria do Enfoque Meta-Analítico Consolidado – TEMAC (MARIANO, et al., 2019), à luz do referencial teórico do design para a autonomia em Bonsiepe eEscobar, incorporandoas abordagens decolonial e feminista. Como resultado, são reconhecidas três áreas de promoção de autonomia de mulheres: artístico-cultural, socioeconômica e político-feminista. Há um valor cultural próprio dos bordados como uma arte invisível pelas mulheres, que subverte a tradicional hegemonia masculina. Enquanto em países do Norte Global há um maior acento no valor como hobby, em países do Sul acentua-se seu valor como estratégia de sobrevivência econômica. As rodas de bordado tornam-se uma sociotecnologia de cuidado, ao promoverem um vínculo de convivialidade comunitária entre mulheres. Os bordados permitem dar voz às mulheres na narrativa de suas histórias e questionamentos às opressões políticas. Esta revisão mapeia áreas de futuro aprofundamento para pesquisas empíricas sobrequestões do design para a promoção de autonomia de mulheres através dos bordados.


Palavras-chave


esign,Autonomia, Bordados, Cultura Material, Gênero.

Texto completo:

PDF

Referências


ALCARAZ FRASQUET, Maria. Tirar del hilo: una aproximación al bordado subversivo. Revista Sonda-Investigacion y Docencia en Artes y Letras, v. 5, p. 18-42, 2016.

ALLUCCI, Renata Rendelucci. Una aguja, una lámpara, un telar. Revista Estudos Feministas, v. 27, n. 3, e54376, p. 1-14, 2019.

BELLACASA, Maria Puig. “Nothing comes without its world”: thinking with care. The Sociological Review, v. 60, n. 2, p. 197-2016, 2012.

BELLACASA, Maria Puig. Matters of care in technoscience: assembling neglected things. Social Studiesof Science, v. 41, n. 1, p. 85-106, 2011.

BONSIEPE, Gui. Design, cultura e sociedade. São Paulo: Blucher, 2011.

BROOKS, Helen. Embroidery: sources of design, past and present. The Vocational Aspect of Education, v. 7, n. 14, p. 20-31, 1955.

CHUCHVAHA, Hanna. Quiet feminists: women collectors, exhibitors, and patrons of embroidery, lace, and needle-work in late imperial Russia (1860-1917). Journal of Decorative Arts, Design History, and Material Culture, v. 27, n. 1, p. 45-72, 2020.

COOPER, Sophie. Something borrowed: women, Limerick lace and community heirlooms in the Australian Irish diaspora. Social History, v. 45, p. 304-327, 2020.

CRUZ-FERNÁNDEZ, Paula A. de la. Marketing the hearth: Ornamental embroidery and the building of the multinational singer sewing machine company. Enterprise and Society, v. 15, n. 3, p. 442-471, 2014.

CUNHA, Tânia Batista da; VIEIRA, Sarita Brazão. Entre o bordado e a renda: condições de trabalho e saúde das labirinteiras de Juarez Távora/Paraíba. PsicologiaCiência e Profissão, v. 29, n. 2, p. 258-275, 2009.

EDWARDS, Clive. 'Home is where the art is': women, handicrafts, and home improvements 1750-1900. Journal of Design History, v. 19, n. 1, p. 11-21, 2006.

ERICKSON, Kirstin C. Las colcheras: spanish colonial embroidery and the inscription of heritage in contemporary Northern New Mexico. Journal of Folklore Research, v. 52, n. 1, p. 1-37, 2015.

ESCOBAR, Arturo. Designs for the pluriverse: radical interdependence, autonomy, and the making of worlds. Londres: Duke University Press, 2018.

FISHER, Berenice; TRONTO, Joan. Toward a feminist theory of caring. In: ABEL, Emily K.; NELSON, Margaret K. (Orgs.). Circles of care: work and identity in women's lives. Albany: Sunny Pres, 1990, p. 35-62.

HACKNEY, Fiona. Quiet activism and the new amateur: the power of home and hobby crafts. Design and Culture, v. 5, n. 2, 169-193, 2013.

HARAWAY, Donna. Sowing worlds: a seed bag for terraforming with earth others. In: GREBOWICZ, Margret; Merrick, Helen (Orgs.). Beyond the cyborg: adventures with Donna Haraway. Nova Iorque: Columbia University Press, 2013, p. 137-146.

HARAWAY, Donna. When species meet. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2008.

HUANG, I-Fen. Gender, technical innovation, and Gu Family embroidery in late-ming Shanghai. East Asian Science, Technology, and Medicine, v. 36, p. 77-129, 2012.

ILINA, Nadejda. “¡Tu madre está en la lucha!” La dimensión de género en la búsqueda de desaparecidos en Nuevo León, México. Ícones, n. 67, p. 119-136, 2020.

JABEEN, Salma; HAQ, Sanam; JAMEEL, Arif. Impacts of rural women’s traditional economic activities on household economy: changing economic contributions through empowered women in rural Pakistan. Sustainability, v. 12, n. 7, p. 2731, 2020.

LEITE, Marcia de Paula. As bordadeiras de Ibitinga: trabalho a domicílio e prática sindical. Cadernos Pagu, v. 32, p. 183-214, 2009.

MARIANO, Ari Melo; REIS, Ana Carla Bittencourt; ALTHOFF, Lucas dos Santos; BARROS, Laís Bandeira. A bibliographic review of software metrics: applying the consolidated meta-analytic approach. Springer Proceedings in Mathematics & Statistics, v. 280, p. 243-256, 2019.

MASO, Tchenna Fernandes; MASO, Tchella Fernandes. Onde estão nossos direitos? O campo feminista de gênero bordado pelas mulheres atingidas por barragens. Revista Brasileira de Políticas Públicas, Brasília, v. 10, n. 2, p. 481-510, 2020.

MINAHAN, Stella Marie; COX, Julie Wolfram. Stitch'nBitch: cyberfeminism, a third place and the new materiality. Journal of Material Culture, v. 12, n. 1, p. 5-21, 2007.

MONTGARRETT, Julie. Textile art and feminist social activism: the daily diminish project. Textile-Cloth and Culture, v. 15, n. 4, p. 396-411, 2017.

MYZELEV, Alla. Whip your hobby into shape: knitting, feminism and construction of gender. Textile, v. 7, n. 2, p. 148-163, 2009.

NUNES, Caroline Atencio Medeiros. A intergeracionalidade nas graphicnovels autobiográficas “Persépolis” e“Bordados” de MarjaneSatrapi. AEDOS – Revista do corpo discente do programa de pós-graduação em História da UFRGS, v. 12, n. 27, p. 614-640, 2021.

PARKER, Rozsika. The subversive stitch: embroidery and the making of the feminine. Londres: Women's Press, 1984.

PEIXOTO, Patrícia; MAYNARDES, Ana Claudia. Design e atividade artesanal como práticas emancipatórias. In: Anais do Colóquio Internacional de Design 2020. São Paulo: Blucher, 2020, p. 517-527.

PÉREZ-BUSTOS, Tania. El tejido como conocimiento, el conocimiento como tejido: reflexiones feministas en torno a la agencia de las materialidades. RevistaColombiana de Sociologia, v. 39, n. 2, p. 163-182, 2014.

PEREZ-BUSTOS, Tania. Thinking with care: Unravelling and mending in an ethnography of craft embroidery and technology. RevueD’Anthropologie des Connaissances, v. 11, n. 1, p. 1-22, 2017.

PÉREZ-BUSTOS, Tania; MÁRQUEZ, Sara D. Destejiendo puntos de vista feministas: reflexiones metodológicas desde la etnografía del diseño de una tecnologia. Revista Iberoamericana de Ciencia, Tecnología y Sociedad – CTS, v. 11, n. 31, p. 147-169, 2016.

PHILLIPS, Brenda D. Women's studies in the core curriculum: using women's textile work to teach women's studies and feminist theory. Feminist Teacher, v. 9, n. 2, p. 89-92, 1995.

RIVERA, Rafael A. Gonzalez; CORTES-RICO, Laura; PEREZ-BUSTOS, Tania; FRANCO-AVELLANEDA, Manuel. Embroidering engineering: a case of embodied learning and design of a tangible user interface. Engineering studies, v. 8, n. 1, p. 48-65, 2016.

SALAMON, Hagar. Embroidered Palestine: a stitched narrative. Narrative Culture, v. 3, n. 1, p. 1-31, 2016.

SÁNCHEZ-ALDANA, Eliana; PÉREZ-BUSTOS, Tania; CHOCONTÁ-PIRAQUIVE, Alexandra. ¿Qué son los activismos textiles?: una mirada desde los estudios feministas a catorce casos bogotanos. Athenea Digital, v. 19, n. 3, e2407 p. 1-24, 2019.

SCHMAHMANN, Brenda. Intertextual textiles: parodies and quotations in cloth. Textile, v. 15, n. 4, p. 336-343 2017a.

SCHMAHMANN, Brenda. Needled women: representations of male conduct in Mapula embroideries. Textile, Cloth and Culture, v. 5, n. 1, p. 10-33, 2007b.

SEGALO, Puleng. Our lives through embroidery: narrative accounts of the women’s embroidery project in post-apartheid South Africa. Journal of Psychology in Africa, v. 21, n. 2, p. 229-238, 2011.

SEGALO, Puleng. Using cotton, needles and threads to break the women’s silence: embroideries as a decolonising framework. International Journal of Inclusive Education, v. 20, n. 3, p. 246-260, 2016.

SEGALO, Puleng; MANOFF, Einat; FINE, Michelle. Working with embroideries and counter-maps: engaging memory and imagination within decolonizing frameworks. Journal of Social and Political Psychology, v. 3, n. 1, p. 342-364, 2015.

SENNETT, Richard. The Craftsman. New Haven: Yale University Press, 2008.

SILVA, CínthiaKaline Vieira da; BRITO, Luísa Medeiros; DANTAS, Thomas Kefas de Souza. A indicação geográfica como promotora do desenvolvimento local e regional: o caso (em potencial) do bordado do Seridó. Revista GEINTEC – gestão inovação e tecnologias, v. 6, n. 1, p. 2982-2990, 2016.

SILVA, Marlene M. da. Travail de la femme et subordination des petits producteurs dans l'Agreste du Pernambouc. Travaux – Institut de Geographie de Reims, v. 89-90, p, 157-172, 1994.

SINGLETON, Vicky. When contexts meet: feminism and accountability in UK cattle farming. Science, Technology, and Human Values, v. 37, n. 4, p. 404-433, 2012.

SU, Ming Ming; WALL, Geoffrey; MA, Jianfu; NOTARIANNI, Marcello; WANG, Sangui. Empowerment of women through cultural tourism: perspectives of Hui minority embroiderers in Ningxia, China. Journal of Sustainable Tourism, online first, 2020.

THUNDER, Moira. Capturing understanding of women’s embroidery designs: a methodology for research and a critique of cataloguing databases using the example of women’s embroidery in nineteenth-century Britain. Textile History, v. 45, n. 1, p. 68-98, 2014.

VAN DER MERWE, Ria. From a silent past to a spoken future. Black women’s voices in the archival process. Archives and Records – The Journal of the Archives and Records Association, v. 40, n. 3, p. 2369-258, 2019.

VARELA MATTUTE, Ambar. La muñequita zapatista: significación social de un objeto icónico artesanal. Latin American and Caribbean Ethnic Studies, online first, 2021.

WILKINSON-WEBER, Claire M. Skill, dependency, and differentiation: artisans and agents in the Lucknow embroidery industry. Ethnology, v. 36, n. 1, p. 49-65, 1997.




DOI: https://doi.org/10.35522/eed.v30i1.1383

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Direitos autorais 2022 Roberta Serednicki de Ávila, Ana Claudia Maynardes

Licença Creative Commons
Esta obra está licenciada sob uma licença Creative Commons Atribuição - NãoComercial 4.0 Internacional.

Revista Estudos em Design, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, ISSN Impresso: 0104-4249, ISSN Eletrônico: 1983-196X

Licença Creative Commons
Esta obra está licenciada sob uma licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.